o Bairro das Caixas, situado na Parede, em Cascais, é um conjunto habitacional ímpar ao nível do urbanismo e da arquitetura moderna portuguesa. Foi projetado pelo arquiteto português Ruy Jervis d’Athouguia, entre os anos 1957 e 1960.

nasce no contexto de uma política de habitação desenvolvida pelo Estado Novo a partir dos anos 50 que, através da Federação de Caixas de Previdência (de onde resulta o seu nome), promoveu em larga escala a construção de novas “Casas Económicas” ou “Casas de Renda Económica”. Foi inaugurado em setembro de 1962.

este conjunto habitacional foi claramente influenciado pelos ideais urbanísticos e arquitetónicos do Movimento Moderno e da Carta de Atenas. Podemos identificar a imagem de um conjunto urbano identitário, na qual predominam os grandes e longos blocos em banda, de formas depuradas e linhas puramente racionais, com uma evidente baixa densidade, cuja implantação dá espaço ao plano térreo e público, onde se privilegiam as áreas ajardinadas para lazer e recreação.

o bairro, edificado sobre uma antiga pedreira, é constituído por sete blocos em banda (com um total de 20 lotes), paralelos entre si, numa orientação norte-sul, que se implantam perpendicularmente e a acompanhar a Avenida Gago Coutinho. Do lado oposto, existem ainda três outros conjuntos edificados (com um total de 8 lotes) próximos à Rua Gil Vicente, que rematam o quarteirão a poente. 

os sete blocos (A a G) são de tipologia esquerdo/direito, com quatro andares e dois fogos por piso, e têm cobertura de duas águas em telha. Existem três tipologias de habitação diferentes (T2+1 - Blocos A, B e C, T3+1 - Blocos F e G e T4+1 - Blocos D e E). As portas de entrada dos prédios, na fachada norte, são marcadas por um muro de pedra e uma pala que protege o acesso. Estas fachadas a norte são marcadas pelas janelas horizontais das zonas de cozinhas, casas-de-banho e lavandarias e pelos estendais protegidos pelos cobogós. As fachadas a sul, nas quais se localizam os quartos e salas, são marcadas pelas janelas generosas de sacada e pelas suas varandas.

esteve programado um conjunto ajardinado entre os blocos, que atualmente está totalmente calcetado e é utilizado para estacionamento automóvel. Apesar disso, existem árvores de vários tipos, principalmente de folha caduca, que garantem a necessária sombra nos meses de verão e exposição nos meses de inverno. No centro do conjunto habitacional esteve, desde a sua conceção inicial, prevista a existência de um grande jardim, funcionando como centro da vida de recreação e lazer ao ar livre; passados 55 anos, o jardim foi finalmente concretizado.

para um bairro de “Casas de Renda Económica”, com baixo custo de construção, é de notar uma elevada qualidade da conceção arquitetónica, em que são evidentes princípios a que hoje poderíamos enquadrar numa arquitectura sustentável e passiva: todos os espaços com luz natural (redução do consumo da eletricidade); ventilação natural e cruzada (aumento qualidade do ar); espaço exterior privado (promover a relação com exterior); correto sombreamento no verão e exposição no inverno (redução do consumo de arrefecimento e aquecimento). Naturalmente, hoje em dia, sabemos que seriam necessárias várias outras valências para efetivar esta visão sustentável: janelas e portas isolantes, isolamento térmico e acústico, fontes geradoras de energias renováveis, reaproveitamento de águas pluviais, etc. Elementos estes que poderiam ser implementados, com o devido planeamento e coordenação, sem retirar a qualidade e identidade ao conjunto edificado e urbano.

é crucial perceber que o Bairro das Caixas é um património relevante que precisa de ser reconhecido, valorizado, preservado e modernizado. Cabe-nos a nós, moradores e fruidores, ter um papel ativo para almejar uma visão auspiciosa para o seu futuro. 



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fotografia de Nuno Almendra